sexta-feira, 6 de abril de 2012

O eufemismo ao serviço do Poder

De manhã passei os olhos pelos jornais on-line e voltei a encarar com o cuidado que os funcionários do poder colocam na sua linguagem procurando relativizar a gravidade e a violência diárias que a maioria dos portugueses enfrentam. Em tempo de Páscoa, momento de celebração da Ressurreição com todo o significado que encerra de  vitória sobre a injustiça e a prepotência dos que querem dominar o mundo, a hierarquia católica "alerta" para a pobreza ( a palavra denúncia tem consequências perigosas, acorda consciências e provoca mal-estar); a UGT pela voz do seu inefável secretário-geral diz que a decisão do governo sobre as reformas "penaliza" os portugueses (a palavra violenta do verbo violentar, nunca seria usado porque violentaria os acordos estabelecidos entre a chamada central sindical, os patrões e o governo); o FMI afirma-se "triste" com o trágico suicídio de um reformado frente ao parlamento de Atenas em protesto contra o vil corte de pensões (o adjectivo eufórica, indignaria o cidadão comum e reforçaria o gesto, por isso, optam pelo "politicamente correcto" e dizem-se, hipocritamente, "profundamente tristes", pois então, é em geral, dos poucos consenso que a morte de um semelhante costuma gerar. Estes eufemismos servem para continuar a manter o estado de torpor de um povo que tarda em reagir e a reclamar dignidade.

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