Há 50 anos, na Lombada da Ponta
do Sol, um grupo de gente anónima empenhava-se, com determinação e coragem,
numa luta justa pelo direito à água. Durante longas semanas, o povo uniu-se e
enfrentou a máquina poderosa e violenta da ditadura fascista de Salazar,
resistindo ao terror que os seus esbirros semearam. Com dignidade afirmaram a
justiça da sua causa enfrentando as duras humilhações ditadas pelo poder.
Serve esta evocação da nossa
História, para agitar estes tempos de conformismo e desalento em que somos
vencidos pelo medo, esse inimigo mais forte e pelas nossas próprias indecisões,
o maior obstáculo como dizia Cervantes. Vamos sofrendo perante o alastramento
de uma pobreza que dá milhões a ganhar a uns poucos poderosos, vamos ganhando
uma raiva surda perante a imoralidade das injustiças impostas pelo poder e
vamos chorando os que tombam por lhes ver negada a dignidade. Estes absurdos vão
criando a solidariedade, por isso, só nos falta a convicção da nossa causa
comum. Como há 50 anos na Lombada da Ponta do Sol, precisamos de acreditar na
justiça da nossa razão. Temos ou não temos razão quando exigimos trabalho com
dignidade e direitos? Quando queremos mais e melhor Educação e mais e melhor Saúde?
Quando exigimos protecção e segurança social? Quando exigimos o fim das
mordomias dos poderosos e uma repartição equitativa da riqueza gerada por
todos? Sim, temos razão.
Aquele povo deixou-nos uma lição
fundamental, a de que a certeza da justiça de uma causa derruba todos os
obstáculos e derrota os piores inimigos, sobretudo, porque nos torna poderosos.
A Revolta da Água em 1962 tornou-se no testemunho de que a justiça e a
solidariedade mudam o mundo, devagarinho e às vezes com muito sofrimento como
aconteceu então, mas mudam-no, irremediavelmente e sempre, para melhor.
Nota: Um obrigada especial ao blogue "Clarear" pela belíssima fotografia.