sexta-feira, 20 de abril de 2012

A arte de bem fazer favorzinhos ao regime e de desacreditar a Democracia.

É muito difícil fazer de conta de que os episódios lamentáveis que têm decorrido na Assembleia Legislativa Regional tendo por protagonistas o seu presidente e os deputados do PTP, me deixaram sem qualquer tipo de reacção que não seja a do desprezo. Mais do que desprezo profundo pelo sucedido e pelos seus miseráveis protagonistas (uns quantos sedentos do vedetismo barato de quem se faz de vítima em directo para as câmaras e o outro usando da hipocrisia dos que não têm coluna vertebral), sinto raiva e tristeza  pela forma como aquele órgão se tornou o instrumento mais eficaz do regime: durante trinta anos o PSD-M quis transformar aquela casa no lugar onde se desacredita a Democracia e a Autonomia, usou de linguagem chã e de caserna, insultou os adversários que mantiveram a sua integridade e manipulou os traidores que se venderam, sobretudo, usou e abusou do poder para fazer leis a seu favor e da chusma de oportunistas que o compõem e agora, já no estertor do regime, faz render a agonia alimentando um circo cuja única intenção é desesperar os que precisam de ver resolvidas, com urgência, a fome e a miséria que todos os dias crescem nas suas casas. Enquanto uns quantos bobos se dispuserem a fazer rir a corte, a voz daqueles que clamam por justiça e exigem contas aos que desmandam as nossas vidas, serão silenciadas. É isso que o PSD-M quer e o regime jardinista precisa para sobreviver.

terça-feira, 17 de abril de 2012

UM POVO FÁCIL DE GOVERNAR

Com um especial obrigada ao Luís Afonso pelo cartoon (Público, 17/04/12)
Oiço, em conversas informais, a afirmação da recusa em saber o que se passa e de ouvir o que quer que seja sobre a actual situação de crise que a Europa, o país e, em particular, a região, atravessam. Se compreendo a estratégia emocional de defesa, surpreende-me o tão rápido conformismo de cada um à condição de sujeito passivo da vontade de uma minoria no poder. Por mais que tentemos fugir dos factos, a dureza da realidade está aí e agravou-se ferozmente com a entrada em vigor do Programa de Ajustamento Financeiro da Madeira no dia 1 de Abril. É certo que este conjunto de imposições, para garantir a perpetuação da elite do regime, afecta mais uns do que outros mas também é certo, de que a todos deixa a dolorosa garantia de um futuro incerto e sombrio. Com a marca do “socialmente correcto” reforçou-se uma atávica resignação e um ensurdecedor silêncio que condenam, com espantosa veemência, a coragem para protestar e a capacidade para propor alternativas. Chego a ouvir às vítimas, os mesmos argumentos daqueles que as arrastaram, nos seus delírios de poder, até à sua desgraça.
Poucas coisas serão tão fáceis de fazer quanto governar um povo assim: tomam-se decisões criminosas para o presente e para o futuro, destrói-se deliberadamente, em proveito próprio, o que pode gerar riqueza para todos; hipoteca-se a democracia e a autonomia a troco de miséria para todos e poder para os mesmos. Dizem os manuais de Sociologia e de História que quanto mais instituída é uma crise, maior é a ausência de controlo sobre quem governa, por isso, estamos em tempos de escolhas: queremos continuar a preferir a falsa protecção dos servos debaixo da canga ou queremos exigir contas aos que tomaram e continuam a tomar as decisões contra os interesses de todos usando de demagogia e populismo para enganar os incautos e ignorantes e mudar o rumo dando voz e vez aos que recusam e propõem, com responsabilidade, outro caminho? 

sábado, 14 de abril de 2012

O Noticiário da TVI no seu melhor...

A TVI, mais uma vez, faz-se eco de posições das mais perigosas sem permitir o contraditório. A última peça do noticiário da tarde foi sobre a encomenda de assassínios e deu-se a palavra a pessoas das mais diversas origens. O que foi muito grave é que a título de conclusão, o último interveniente (um jurista qualquer cujo nome e ocupação não registei) afirmou categoricamente que o preço da vida baixou em virtude da multiculturalidade (?!), explicando que o encontro de culturas trouxe para o nosso seio, cidadãos de culturas em que a escala de valor da vida é muito baixa (?!). Disse este absurdo com o ar mais académico e científico do mundo e a peça terminou...Ora ainda que os imigrantes envolvidos nos casos relatados viessem de  "civilizações menos evoluídas" (juízo de valor que só é possível a quem sustenta a sua ignorância e estupidez na generalização abusiva, no preconceito), os mandantes foram sempre "bons" portugueses, dos de cepa e foi mesmo referido que num dos casos, uma cidadã reconhecida por todos como boa cristã católica com todos os "sacramentos em dia". Senhores jornalistas da TVI já que poupam na inteligência ao menos sejam mais pródigos no profissionalismo. E também gostaria muito ver o tal senhor jurista a ser emigrante na Alemanha onde gentinha como ele, mas alemã, considera que Portugal é uma cultura onde a escala de valor da vida é muito baixa e que, portanto, somos todos potenciais criminosos: "...é o preconceito, estúpido!"

quinta-feira, 12 de abril de 2012

"A pobreza na própria Pátria é um exílio." Provérbio Árabe

Hoje na aula veio a propósito falar em exílio, falámos sobre os sentimentos que devem experimentar os que se vêem obrigados a fugir da sua pátria e viver numa terra que, ainda que de acolhimento, não deixa de ser estranha no que de mais de profundo e consolador nos une à terra-mãe. A aula prosseguiu e no final houve, como sempre há,  lugar para as pequenas conversas que nascem daquela comunhão entre pessoas que partilham o mesmo quotidiano com a esperança de cumprir um objectivo que vindo de uma motivação e um trajecto individual, não deixa de ser também uma caminhada em conjunto. Os últimos meses têm trazido uma partilha dolorosa, aumenta o número dos atingidos pelo desemprego, desabafa-se sobre as dificuldades diárias cada vez maiores, exprime-se o sentimento de indignação mas também se reforçam a coragem e determinação em não perder a dignidade.A caminho de casa ocorreu-me um provérbio árabe que em tempos ouvi e me pareceu de uma profunda sabedoria " A pobreza na própria Pátria é um exílio." Estamos a ser exilados dentro da nossa própria pátria, condenados à condição de estrangeiros na terra que nos viu nascer e a que chamamos nossa. Uns quantos párias que tomaram o poder negam-nos a cidadania e a liberdade, estrangulando-nos na pobreza.

sábado, 7 de abril de 2012

Para depois da Páscoa...

Sete dias passaram sobre a entrada em vigor do Programa de Ajustamento Financeiro da Madeira. O silêncio mais absoluto tem marcado esta semana em que os madeirenses se têm confrontado com o aumento brutal do preço dos bens essenciais e com o agravamento de todo o tipo de dificuldades quotidianas (empresas que encerram; patrões que exploram; serviços públicos num caos; insegurança crescente). Aquele a quem a menor réstia de luz de projectores é sempre ocasião para as mais "profundas" bojardas remeteu-se ao silêncio mais ensurdecedor, nem o areal dourado do Porto Santo o parece "inspirar". O regresso das imerecidas férias da Páscoa, será marcado pelas atroadas do costume e para defesa pessoal aí vêm difamação, arrogância e prepotência. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos porque se a Madeira Nova já provou que era de madeira velha e podre corroída pela formiga branca, o deslumbre do poder já só funciona sob o efeito de sedativos à mistura com muito álcool.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O eufemismo ao serviço do Poder

De manhã passei os olhos pelos jornais on-line e voltei a encarar com o cuidado que os funcionários do poder colocam na sua linguagem procurando relativizar a gravidade e a violência diárias que a maioria dos portugueses enfrentam. Em tempo de Páscoa, momento de celebração da Ressurreição com todo o significado que encerra de  vitória sobre a injustiça e a prepotência dos que querem dominar o mundo, a hierarquia católica "alerta" para a pobreza ( a palavra denúncia tem consequências perigosas, acorda consciências e provoca mal-estar); a UGT pela voz do seu inefável secretário-geral diz que a decisão do governo sobre as reformas "penaliza" os portugueses (a palavra violenta do verbo violentar, nunca seria usado porque violentaria os acordos estabelecidos entre a chamada central sindical, os patrões e o governo); o FMI afirma-se "triste" com o trágico suicídio de um reformado frente ao parlamento de Atenas em protesto contra o vil corte de pensões (o adjectivo eufórica, indignaria o cidadão comum e reforçaria o gesto, por isso, optam pelo "politicamente correcto" e dizem-se, hipocritamente, "profundamente tristes", pois então, é em geral, dos poucos consenso que a morte de um semelhante costuma gerar. Estes eufemismos servem para continuar a manter o estado de torpor de um povo que tarda em reagir e a reclamar dignidade.

"NÃO HÁ DRAMA, TUDO É INTRIGA E TRAMA" grafitti citado por José Gil

À hora do almoço, ouvi e vi mais uma daquelas reportagens televisivas dos noticiários nacionais em que algumas pessoas são entrevistadas. Desta vez perguntava-se como mantinham as tradições gastronómicas da Páscoa neste tempo de austeridade. As respostas foram, invariavelmente, idênticas a quaisquer outras que já tenham sido dadas sobre a crise e as dificuldades económicas de cada um: "Sim mas comigo não há problema..."; "Pois mas dá-se sempre o jeito e contorna-se...", Claro para os outros talvez mas eu ainda não senti...". Do conjunto de explicações que podemos encontrar para este fenómeno (selecção de entrevistados; mitomania resultante da presença de câmaras televisivas; embaraço em dar conta das suas dificuldades pessoais) há um aspecto que me parece muito interessante e que é o da não-inscrição de que fala José Gil, "em Portugal nada acontece". A não-inscrição mantém-se como resultado de uma violenta imposição social silenciosa mas omnipresente que continua a reduzir-nos a seres infantilizados porque incapazes de assumir compromissos com a realidade e sempre afirmando a inexistência de qualquer tipo  responsabilidade pessoal sobre o presente.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"É a canalhice, estúpido!"

Há uma experiência com sapos que é muito conhecida e que me ocorre agora a propósito das declarações de Passos Coelho sobre a "reposição" dos subsídios de férias e de Natal lá para 2015 em resultado de uma suposta não definição de calendário com a troika. Ora a experiência é esta:  em laboratório reuniram-se dois grupos de sapos, o primeiro foi mergulhado num recipiente com água muito quente  em consequência, os animais reagiram de imediato e saltaram fugindo do calor, o segundo foi colocado dentro de um recipiente com água fria que foi colocado sobre fogo lento, o resultado foi que os sapos foram tentando adequar-se à temperatura que subia e acabaram por morrer cozidos. A temperatura tem subido gradualmente com uma constância muito regular e os portugueses parecem não ter percebido que ainda têm alternativa que é reagir e mudar o rumo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Desemprego volta a disparar em Fevereiro

O Centro de Segurança Social da Madeira confirmou aquilo que já suspeitávamos, durante o mês de Fevereiro o número de desempregados na Madeira voltou a subir.Numa região em que há pelo menos 21 mil activos no desemprego, não chegam a  10 mil os que mantém o subsídio de desemprego. Se somarmos a esta realidade, a circunstância de milhares de jovens madeirenses não estarem contabilizados nesta estatística por não conseguirem reunir as condições para a atribuição da prestação ou por nunca terem chegado a entrar no mercado de trabalho, vemos engrossar, preocupantemente, uma larga faixa da população a quem está a ser negado qualquer tipo de recurso.
É neste contexto cujo o agravamento, infelizmente, se prevê enquanto as vítimas não reagirem, que entra em vigor o Programa de Ajustamento Financeiro, um compromisso imoral e criminoso dos senhores do regime com a troika para saldar as dívidas dos seus delírios de poder e ganância. Numa jogada de burlão, o PSD-M avança com a crise da sucessão e dos delfins. Siga a rusga!

Mais sacrifícios inúteis

Entrou em vigor na Madeira e no Porto Santo o Programa de Ajustamento Financeiro. Depois de mais de 30 anos de regime jardinista em que as palavras Democracia e Autonomia serviram só para engordar uma elite imoral e criminosa de parasitas que usaram como trampolim o que de melhor os madeirenses têm, a sua lealdade e brandura, qualidades que herdaram da "raça" portuguesa e que as ilhas moldaram. Quanto tempo levarão os madeirenses a perceber que lealdade e brandura podem e devem ser conjugados com os verbos honrar, vencer, dignificar? Quanto tempo mais aceitarão esta condição de servos de uma colonia que tem como raiz o medo e a desesperança?