Hoje os
cidadãos gregos, franceses e egípcios são convocados a eleições e escolherão
pressionados entre a sua vontade de mudança e o terrorismo do discurso do poder
sobre o caos. São chamados a dar voz a uma nova síntese que, no processo dialéctico
que é a História, poderá representar uma nova alternativa ou, então, se
continuarem a vencer os que já estão no poder, apenas o arrastar da actual
conjuntura de crise até ao, muito previsível, colapso à escala global. Gregos,
franceses e egípcios estão hoje entre o medo e a esperança, entre o imobilismo
e a coragem, entre a resignação e a responsabilidade.
As
semelhanças, infelizmente dramáticas, entre Portugal e a Grécia, devem
fazer-nos espectatores atentos sobre o que está a acontecer naquele país. Lá
como cá, ao longo dos anos de adesão à União Europeia, fomos recebendo fundos
sob a capa das boas intenções para remediar o enorme atraso que tínhamos em
relação ao resto da Europa mas o que esse caudal de dinheiro serviu, e todos o
sabiam, foi para alimentar, despudoradamente, uma elite posta no poder pela
questionável legitimidade democrática da abstenção. Lá como cá, os que se
juntaram aos partidos que, rotativamente, estiveram e estão no poder, fizeram
fortunas pessoais e dispuseram-se a cumprir as ordens das grandes empresas e da
banca que não têm pátria nem moral e que por isso, se “dão nas tintas” para
impostos e contributos para o crescimento económico (vivem e promovem zonas
francas e paraísos fiscais). Lá como cá, todos sabiam que o sistema imporia um
dia, a cobrança da dívida e lá como cá, todos sabiam que os únicos que a iriam
pagar, seriam os que muito pouco ganharam. Lá como cá, a estratégia da União
Europeia e os seus chefes (FMI e Banco Mundial) foi criar o monstro do buraco
orçamental e do escândalo da dívida externa. Lá como cá, apareceram como
“virgens ofendidas”, organizadas numa “troika” que suga a dignidade de cada
português e de cada grego que vive do seu trabalho. Lá como cá, agem como
terroristas que espalham o medo reprimindo pela fome e pelo sofrimento os que
foram enganados tentando que não usem o seu direito inalienável de escolha de
um novo rumo. Lá como cá, temos de convictamente unir forças para a mudança que
tem de ser já hoje.